terça-feira, 26 de março de 2013

Na Mística de Betânia: Caminhos que geram Bem Querer


Então Maria levou quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro.
Ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos.
 A casa inteira se encheu com o perfume.
(Jo 12,3)

A Igreja jovem do continente percorre um caminho de revitalização de sua ação pastoral a partir da experiência de Jesus nos lugares bíblicos-teológicos de Belém, Nazaré, Betânia, Samaria e Jerusalém. Em 2013 o lugar é Betânia, espaço de reconhecer com a juventude os sinais de bem querer acontecendo na comunidade local. Esta experiência na Casa dos Pobres, em hebraico “Betânia”, fala da opção pelos empobrecidos, da fidelidade á causa do reino, de cuidado com as relações: de amizade, de companheirismo, de discipulado... Corpos empobrecidos e negados, de jovens proibidos de ser e estar no mundo, são lugares teológicos de uma ação na direção da vida em abundância, tendo Betânia como referência, no Seguimento de Jesus. Uma vez que estamos diante de uma cultura que coisifica, subjuga e comercializa as pessoas e comunidades e onde se criminaliza a juventude como culpada de todas as mazelas da sociedade, o seguimento de Jesus nos aponta um voltar ao corpo pessoal-comunitário de pessoas e grupos, para reconhecer, nele, a dignidade da vida, a cultura juvenil e popular na construção do Bem Viver.

 A Casa Inteira se Encheu de Perfume
Nas Comunidades de João, antes dos relatos da Páscoa-Ressureição de Jesus, a comunidade conta que Jesus, estava com seu amigo Lázaro e suas irmãs Marta e Maria, tomando uma refeição, junto à mesa, em Betânia (Jo 12, 1 - 11). A comunidade evangélica tem a preocupação de marcar a relação de cada um/a no texto, isto é, os movimentos de opressão-libertação, que o enredo vai gerando. Um relato semelhante é descrito em Mateus 26, 6 – 7. Para esta comunidade, contudo, era importante apenas dizer da presença de Lázaro, e de uma mulher sem nome. O relato em João segue, dizendo da atitude de Maria, que começa a ungir os pés de Jesus e, depois, enxuga os pés com os próprios cabelos. Num referência poética, a comunidade evangélica escreve: “A casa inteira se encheu de perfume”. A comunidade conclui o texto apresentando um conflito que seguirá até o martírio de Jesus.
Ao propor o bem querer, o cuidado, a unção com perfume muito caro, que enche a casa, há  uma ruptura com a cultura patriarcal judaica, estabelecendo uma relação de cuidado e encontro de corpos. Maria, em sua atitude de cuidar de Jesus, rompe com a barreira cultural entre seu corpo de mulher-virgem (isto é, sem marido – o texto não faz referência a presença de outro homem, para além de Lázaro), e o corpo daquele homem. Esta tarefa de ungir os pés era própria das mulheres casadas, no cuidado e trato de seus maridos. Ao fazer este movimento, Maria se coloca em risco. Não temos outras informações sobre a relação de Jesus e Maria. O texto sugere para nós perguntas sobre as relações de respeito entre os dois, de cuidado e amizade que possibilitaram este movimento de tocar e se tocado, de ungir e ser ungido e de perfumar toda a casa, isto é, de envolver toda a comunidade naquela relação de amizade e carinho.

Dois grupos
O texto apresenta dois grupos: o primeiro, representado pela expressão “a casa cheia de perfume”, a comunidade envolvida, embarcada pela experiência de cuidado, reconhecendo o bem querer como dom da vida. Em seguida, outro grupo toma a palavra. São pessoas que não conseguem reconhecer que a vida existe para ser gasta, na fraternidade; enxergam a ação da mulher e a permissão de Jesus, como atitudes marginais. Parece que na própria comunidade de seguidores/as de Jesus, não é consenso o encontro entre corpos, entre sentimentos e cuidados, o bem querer expressado na vida cotidiana. Mas Jesus tem convicção e valoriza o cuidado com o corpo, ao defender a ação da mulher e eternizar este momento. A grande novidade (boa noticia), do texto é o cuidado com o corpo, com as relações, com a comunidade de amigos/as, elementos fundamentais para o seguimento de Jesus.

Pistas hermenêuticas para vivenciar Betânia
Queremos propor, ao longo do ano, em uma rede de parcerias, alguns movimentos pessoais-comunitários, em Betânia, a partir de uma leitura popular das Comunidades Evangélicas, em sintonia  com a Missão Continental e o Projeto de Revitalização da Pastoral da Juventude, na busca do bem querer, na construção de relações mais fraternas, na valorização do corpo e da comunidade vital. Estes movimentos são pistas para o grupo/pessoa jovem, se colocar no caminho de conversão à realidade juvenil, à opção pelos empobrecidos e à valorização da comunidade local.  

_ Reconhecer o lugar bíblico-teológico: Betânia, na Comunidade de Marcos (mais antigo dos Evangelhos), a partir dos lugares, das pessoas, das palavras, e da estrutura dos textos. Perceber: Jerusalém em oposição a Betânia.
_ Refletir sobre a vida em grupo, o seguimento a Jesus na comunidade e na vida juvenil, buscando em Betânia as referências da amizade e do companheirismo.
_ Refletir sobre Betânia, como lugar de uma Igreja (Comunidade de Comunidades) que faz opção pelos pobres.
_ Refletir sobre os conflitos no Seguimento a Jesus, que suscitam em Betânia, por causa das opções assumidas pelo grupo de Jesus. Abrir os túmulos, para gerar a vida.
_ Propor pistas hermenêuticas, para ler o lugar bíblico-teológico de Betânia, como lugar de uma liturgia a serviço da vida.
_ Propor pistas hermenêuticas para ler o lugar bíblico-teológico de Betânia, como lugar de vivenciar o Ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
_ Propor pistas hermenêuticas, para ler o lugar bíblico-teológico de Betânia, desde uma hermenêutica feminista e de luta e organização de mulheres.
_ Propor pistas hermenêuticas, para ler o lugar bíblico-teológico de Betânia, como lugar de vivenciar a beleza da juventude, a diversidade e o respeito.
_ Propor pistas hermenêuticas, para ler o lugar bíblico-teológico de Betânia, como lugar de assumir a luta contra o extermínio da juventude negra.
_ Reconhecer a América Latina, como terra da resistência e da utopia, resgatando os textos e as convergências, da luta da juventude pela garantia de direitos. Buscar em Betânia referências para a organização popular da juventude na América Latina e as estratégias da luta popular. 

Para esta tarefa de conversar sobre Betânia, desde nossos corpos pessoais –comunitários, na busca do Bem Querer, convidamos amigos/as para sentar à mesa e sentir o perfume que dá força na missão e no discipulado. Propomos que vocês saboreiem cada texto, com os olhos atentos do discípulo, e com o coração pulsante de missionário, para como propunha o III Congresso Latino Americano de Jovens: “Caminhar com Jesus para dar vida aos Jovens”.

João Paulo Pucinelli,
Jovem biblista, da coordenação do Centro de Estudos Bíblicos/CEBI Goiás e do Centro Oeste; Educador em Direitos Humanos e Colaborador do Centro de Formação,  Assessoria e Pesquisa em Juventude.
Autor de 7 Vivenciais na Mística de Belém e Nazaré e co-autor da Coleção Caminhos: Juventude e Economia Solidária – Oficinas de Formação.

Carmem Lúcia Teixeira,
Pesquisadora em juventude do grupo Condição Juvenil em Goiás, assessora da Seção Juventude – CELAM (2008-2012), autora de livros como A Juventude quer Viver entre outros.
Colaboradora do Centro de Formação, Assessoria e Pesquisa em Juventude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário