sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Saudades de “Sião”



Junto aos rios da Babilônia nos sentamos e choramos, com saudades de Sião. (Sl 137,1)

        Walderes, você partiu tão repentinamente, deixando em nossos corações um sentimento profundo de dor, que como sarça ardente, não se consome (Ex 3,2). Com certeza, é uma dor apaixonada de saudade, pelo encanto e pela beleza que foi a sua existência. Sabíamos da fragilidade de sua saúde. Porém, de repente, depois de um tempo em terras tão distantes (Canadá), realizando um projeto de estudo (doutorado), você voltou e despediu-se como o cheiro do beija-flor, deixando em nós o suave perfume da sua serenidade e ternura.

        Sua vida foi tão curta!... Muito breve, porém profundamente intensa na força e na grandeza do seu ser, tornando-se para nós um sopro divino. Quanto bem neste mundo a sua presença despertou e realizou!  Quantas pessoas você cativou, amou e cuidou! Quantas dores do mundo você compartilhou e com elas se solidarizou! Quantas causas pela vida em plenitude (Jo 10,10), você abraçou e transformou!

        O Salmo 137, que inúmeras vezes juntos rezamos, fazendo a leitura da Palavra, desperta agora em nossas entranhas o mesmo sentimento de dor e saudade. No entanto, o nosso clamor não se resume ao lamento, à tristeza ou à dor. Sempre celebraremos ardentemente a graça e o consolo que vivenciamos em todos os momentos que partilhamos da sua presença de luz.  Choramos sim, pois o choro é uma expressão de amor. Cada lamento e cada lágrima manifestam a sua presença dentro de nós, em tudo que você semeou e realizou com gratuidade, coragem, teimosia, ousadia....

        Como esquecer de você, tão amigo, tão amado, tão sereno? Como esquecer o seu jeito perfeito e exigente de fazer as coisas acontecerem? Como não admirar o seu dinamismo, a sua sabedoria e criatividade? Como não compartilhar dos seus sonhos? Como não nos alimentar das suas sábias palavras iluminando tantos caminhos? Como não sentir o calor do seu abraço, o brilho do seu sorriso, a força do seu terno e eterno olhar? Como não saciar a sede da Palavra que permanece em nós através das suas inúmeras assessorias e dos seus escritos bíblicos com tanta inspiração e ardor? Como não sentar junto aos rios por onde você navegou (CEBI, CPT, CIMI, CAJU, Cara-Vídeo, Curso de Verão, Petrobras, CONIC, Instituto Marista de Solidariedade, Centro Pastoral Popular, CNBB-PJ, UEG, UFG....) e não chorar a saudade de você que, em muitas circunstâncias, foi para nós um “Monte Sião”, tornando-se  nossa fortaleza e fonte de inspiração com o seu jeito de ser, viver, amar?

        Em todos os seus projetos e realizações você foi brilhante, encantador. Seu brilho permanecerá para sempre, porque “Teu Sol não se apagará...” Muitas vidas sua chama de amor ainda há de aquecer e iluminar. “O amor jamais passará”, disse o apóstolo Paulo em uma de suas cartas (1Cor 13,8). Walderes, você jamais passará. Os seus sonhos, a sua utopia, os seus projetos de vida, estão plantados e enraizados no chão do nosso viver, da nossa história. Eles serão para sempre por nós lembrados, acalentados e partilhados.

        As terras por onde você pisou e semeou não são estranhas. Nelas vamos pegar as nossas “harpas’’, entrelaçar nossas mãos numa ciranda de sonhos e, em sua memória, cantar a sua, a nossa utopia: “Mudarei o sertão em açude, terra seca em olho d’água. Assim falou o Senhor das andanças, pra dar ao seu povo a esperança”.

        Bendito seja Deus porque um dia, um jovem sonhador, deixando a sua terra natal (Pernambuco), fez a experiência de um retirante que conhecia a aridez e o sofrimento do sertão nordestino, chegou ao cerrado do Planalto Central e, sem jamais negar as suas origens, aqui criou raízes e ensinou-nos a cultivar a esperança de um manancial de vida plena para os excluídos e as excluídas, com palavras, gestos e atitudes pelas quais nos apaixonamos e que agora se eternizam.  Amém! Axé! Awere!  

Dedico este texto à mulher que gerou no seu seio materno, esse menino apaixonante que fez e continuará fazendo história, como expressão da nossa admiração e gratidão. Obrigada, D. AUXILIADORA!
Mariana (CEBI-GO)

Um comentário:

  1. Obrigado Mariana por esse texto carregado de ternura e sensibilidade. Não vou esquecer jamais a ajuda fraterna e material junto de mim e da família do Walderes. Elas e eu somos e seremos agradecidos sempre. Rezende

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