Trajetória
História
de dom Pedro Casaldáliga é retratada em filme
02
de dezembro de 2014 (terça-feira)
Wilson
Dias/Agência Brasi
Uma
trajetória intensa. É assim que pessoas que convivem com o bispo
emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, definem
a vida do homem que se dedicou a lutar para que a população mais
pobre e os indígenas tivessem consciência de seus direitos e
lutassem por eles.
Nesta
terça-feira (2), os moradores da cidade mato-grossense na qual
Casaldáliga vive até hoje participarão do pré-lançamento do
filme Descalço sobre a Terra Vermelha. A obra, baseada no livro que
leva o mesmo nome e que conta a história do bispo, é uma coprodução
da TV Brasil com mais duas televisões públicas, uma espanhola e
outra catalã, e será exibida no canal brasileiro em três episódios
nos dias 13, 20 e 27 deste mês.
Dom
Pedro Casaldáliga nasceu em Balsareny, na província catalã de
Barcelona, em 1928, e veio para o Brasil aos 40 anos, como
missionário, para trabalhar em São Félix do Araguaia. Na região,
preocupou-se com a saúde, a educação e a assistência à
população. A equipe da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
visitou o bispo que, mesmo debilitado pelo mal de Parkinson, falou
sobre os problemas da região na época em que chegou: uma terra sem
lei, marcada pela violência e pelos conflitos entre posseiros e
latifundiários.
Na
luta pelo reconhecimento dos direitos indígenas, ajudou a fundar o
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na década de 70. Egydio
Schwade, que também foi um dos fundadores da instituição, é hoje
coordenador do Comitê da Memória, Verdade e Justiça do Amazonas e
relembra o trabalho ao lado do bispo. “Dom Pedro estava já muito
engajado na questão indígena em Mato Grosso, na região do
Araguaia, e eu, no noroeste do estado. A gente logo se entrosou”,
conta.
Na
época, eram promovidos encontros para reunir as lideranças
indígenas e foi a partir da criação do Cimi que, segundo Schwade,
essa população começou a se organizar e a ser protagonista de sua
própria luta, travando embates históricos por questões como a
demarcação de terras. O colega de trabalho define o bispo como uma
pessoa que trazia ânimo para as reuniões. “Presença humilde,
simples, escutando os indígenas”. Na descrição de Egydio, dom
Pedro era destemido e não tinha medo de enfrentar a ditadura militar
para defender aquilo em que acreditava.
O
secretário da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), Antônio Canuto, trabalhou com o bispo em São Felix. Eles se
conheceram no período em que dom Pedro chegou ao Brasil. Canuto
conta que São Felix do Araguaia tinha uma estrutura muito precária
em diversas áreas, o que levou o religioso a procurar a ajuda de
colegas missionários para trabalhar nos povoados da região. “Ali
faziam todo um trabalho de alfabetização de adultos, com as
crianças também em termos de escolarização,o atendimento à
saúde, a orientação para a saúde, e o padre fazia o trabalho
pastoral”.
Canuto
lembra que uma das características de dom Pedro é a tomada de
decisão em conjunto. Durante os trabalhos com as equipes, tudo era
conversado e decidido por todos. Ele lembra também momentos
marcantes que viveu ao lado de Casaldáliga, como o lançamento de
uma carta pastoral no dia da ordenação de Pedro como bispo. “Ele
lançou a carta pastoral Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o
Latifúndio e a Marginalização Social, documento que marcou a
Igreja pela firmeza das falas e pelas denúncias dos casos de
violação de direitos dos posseiros, dos índios e dos trabalhadores
que vinham de fora como peões para as fazendas e que eram tratados
em regime de escravidão”.
O
trabalho desenvolvido por Pedro e seus colegas fez com que muitos
integrantes da equipe, e até mesmo ele, fossem ameaçados de morte
ou de expulsão do país.
Além
da criação do Cimi, Casaldáliga teve participação na criação
da Comissão Pastoral da Terra. “Ele e dom Tomás Balduíno são os
dois pilares da criação tanto do Cimi quanto da CPT, ao lado de
outros”. Com a CPT, muitos trabalhadores foram estimulados, assim
como os indígenas, a se organizar.
Ações
como o aperfeiçoamento de professores, a educação e o crescimento
da consciência da população são reconhecidas por todos aqueles
que tiveram suas vidas modificadas em São Felix do Araguaia. Na
cidade, o sentimento de gratidão fica evidente nos depoimentos
colhidos entre os que conviveram e defendem o trabalho de Pedro. A
coordenadora da Associação de Educação e Assistência Social
Nossa Senhora da Assunção, Vânia Costa Aguiar, fala com carinho
daquele que, para ela, é mais que um padre. “Pedro é a figura que
deu uma cara humanista para São Félix do Araguaia. Ele é pai, é
protetor. É um ombro amigo a quem a população necessitada pode
recorrer para falar e partilhar os problemas”.
Apesar
do papel de destaque que tem na cidade, a postura humilde e a posição
de que todas as conquistas são do grupo mostram a simplicidade de
Pedro. “Eu percebo que ele nunca teve a intenção de resolver tudo
sozinho. Sempre tem uma palavra amiga, uma palavra de conforto para
quem o procura e sempre tenta buscar mais pessoas o envolvimento de
mais gente para o encaminhamento dos problemas e das discussões das
questões levadas a ele”.
Mesmo
com a saúde frágil, mas ainda muito lúcido, o bispo faz questão
de se manter atualizado. Vânia conta que ele nunca isolou os
problemas vividos pela cidade e sempre relacionou o que ocorria ali
com as questões nacionais. Para ela, o que dom Pedro fez na região
vai ficar como legado para as futuras gerações. “O legado do
Pedro é justamente ensinar a gente a cuidar das pessoas. Esse tem
sido o seu trabalho, além dos apoios que recebemos, como ensinar a
ter esperança. O que me chama atenção em Pedro é a sua força de
vontade, a sua determinação em seguir adiante, com esperança”.
As
informações são da Agência Brasil.
Publicado no jornal o popular
Em
02/12/14
http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/%C3%ADndice-de-infesta%C3%A7%C3%A3o-quadruplica-1.725550
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